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  • Foto do escritorTadeu Cruz

DESAPEGOS E RESISTÊNCIAS


Você já se desapegou de alguma coisa? Pelo menos já tentou desapegar de alguém? De uma lembrança? De um sentimento?


Não estou falando de se desapegar de coisas, materiais. Como num programa da TV paga, onde tudo é armado, combinado anteriormente, e as pessoas “Oh! Se desapegam” de coisas, (para mim lixo (desculpem)) que acumularam durante ciclos de vida que não foram suficientemente, corretamente encerrados. Não estou falando de desapegos armados, televisivos. Estou falando de desapegos que de tão difíceis causam dor no momento que tentamos desapegar. Esse tipo de desapego não se consegue facilmente. Não se consegue tomando uma atitude contra a presença constante, e muitas vezes, sutil, daquilo que queremos desapegar. Muito menos se consegue tomando um whisky.


Este tipo de desapego luta contra forças sutis, mas poderosas. Luta contra lembranças indeléveis, mas diáfanas. Luta contra tudo aquilo que nos construiu ao longo da nossa existência, criou quem somos, até o momento do desapego. Não adianta chorar, e vamos chorar muito por algum tempo, nem adianta se debater quando as mãos do tempo, invisíveis mãos, nos enlaçam e tentam arrancar da nossa alma as lembranças mais doces. É o que chamamos de a passagem do tempo, dizemos “o tempo apaga”. Mentira, mentira, mentira!


Às vezes, sabe o que fazemos? Ouvimos algumas músicas que nos transportam para os momentos que desejamos desapegar, mas, não dá. Não é assim que vamos conseguir desapegar. É difícil, e nessas horas, como diz o ditado, o feitiço vira contra o feiticeiro, e a dor aumenta.


Então o que fazer?


Eu por exemplo, permito-me ser invadido por todas as lembranças. As vezes até as escolho. “hoje vou sentir saudade desta ou daquela lembrança. Desta ou daquela pessoa, deste ou daquele amor, daquela dor, daquele começo, mas nunca quero lembrar os finais.”


O problema é que quanto mais o tempo se esvai mais as lembranças ficam difusas, apagadas, esfumaçadas. Quanto mais o tempo escorre, inexoravelmente, pela nossa existência, mais as lembranças se tornam difíceis de serem lembradas.


Músicas ajudam a trazê-las de volta. Eu, por exemplo, para escrever esta crônica estou ouvindo Joan Baez, o álbum Blessed Are, especialmente a faixa Heaven Help Us All. Bem década de 60 - 70, Hippies, Guerra do Vietnam, Contracultura, Woodstock, Watergate. Minha cabeça fervilha! Éramos felizes e sabíamos que éramos felizes!


Eu ouço a música várias vezes, muitas, muitas vezes. Deixo a música provocar em mim a catarse que de outra forma eu não conseguiria.


A canção, na voz de Joan Baez, é lindíssima. Alguns versos são tão atuais que eu me pergunto: o que foi que aconteceu com a gente, com a minha geração?


“Deus ajude o menino que não vai chegar aos vinte e um Deus ajude o homem que deu a aquele menino uma arma Deus ajude as pessoas com as costas contra a parede Senhor, o céu ajude a todos nós.”


Algumas lembranças são mais renitentes, resistentes, que outras, talvez sejam porque as queremos manter por mais tempo, mesmo assim não há como separá-las dentro do turbilhão de emoções, daquelas que nos apavoram.


Chorar? Não adianta nada, só piora.


Eu tomo um whisky! Também não resolve, mas eu tomo.


P.S. "Heaven Help Us All" é um single de soul de 1970 composto por Ron Miller e interpretado pela primeira vez pelo cantor da Motown Stevie Wonder.


“Deus nos ajude, Senhor, ouça nosso chamado quando cairmos

Agora eu me deito antes de dormir

Em um mundo conturbado,

eu oro ao Senhor para nos guardar,

guardar do ódio dos poderosos.

E o poderoso do pequeno

Céu ajude a todos nós!”



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