Mal-entendidos, erros, má-fé e suas consequências

Tadeu Cruz

No afã de serem originais, criativas e até mesmo geniais, as pessoas criam coisas, desenvolvem ideias, inventam o que não podem, por falta de base epistemológica, ou o que na melhor das hipóteses, não deveriam ser inventadas.

Metodologias é uma destas coisas.

Qualquer metodologia, para qualquer fim.

Cada vez que ouço “nós criamos uma metodologia para gerenciamento de projetos”, “nós criamos uma metodologia para desenvolvimento de sistemas”, “nós criamos uma metodologia para gestão de processos”, busco conhecer tal metodologia pela sua essência, ou seja, por aquilo que a distingue de meras tentativas de normatização, meras “invencionices”.

Para conhecer corretamente qualquer metodologia, busco sempre acessar os fundamentos da tal metodologia, busco explicações do “por que”, “do como”, “do para que”, enfim, busco conhecer o objeto de pesquisa pela sua base epistemológica.

Uma pequena explicação. O que é epistemologia? A epistemologia estuda a origem, a estrutura, os métodos e a validade do conhecimento, e é, também, conhecida como teoria do conhecimento e relaciona-se com a metafísica, a lógica e a filosofia da ciência. É uma das principais áreas da filosofia, compreende a possibilidade do conhecimento, ou seja, se é possível o ser humano alcançar o conhecimento total e genuíno, e da origem do conhecimento.

Por isso, com base na minha formação em filosofia, busco conhecer todas as coisas pela sua essência (sem exageros, é claro), e com metodologias não poderia ser diferente.

As pessoas juntam meia dúzia de figuras do Power Point, criam uns 10, 15 slides e...

Voila!

Pronto!

Está criada uma metodologia qualquer, sem compromisso com alguma coisa, a não ser com veleidades pessoais, muito menos com bases epistemológicas, até porque não vai funcionar como base, orientação, para nenhum trabalho, e não é mesmo para funcionar, mas para ser apresentada em reuniões, seminários, lives, etc. Na verdade, o que as pessoas criam é um roteiro gráfico, um framework, no máximo um fluxograma com boas intenções. E nós sabemos do que o inferno está cheio...

Metodologia é uma palavra derivada de “método”, do Latim “methodus” cujo significado é “caminho ou via para a realização de algo”.

Método é o processo, (eu disse processo?). Em outro artigo falarei porque tudo é processo. Método é o processo, conjunto de atividades, que têm por finalidade produzir um produto, bem ou serviço, para se atingir um determinado fim ou para se chegar ao conhecimento.

Para que uma metodologia seja reconhecida como tal ela precisa ter base filosófica, conteúdo epistemológico, começo, meio e fim. Precisa, também, ter um ferramental que permita seu uso por quem dela quiser se utilizar.

Por exemplo, a Metodologia DOMP™, criada por mim há mais de trinta anos, e que continua sendo desenvolvida todos os dias, pois o conhecimento não pode ser fim em si mesmo, mas base para o desenvolvimento de mais conhecimento, tem começo, meio e fim, isto é, tem base filosófica, conteúdo epistemológico e, principalmente, tem um vasto ferramental para permitir sua utilização por quem assim o queira ou necessite dela.

O ferramental da Metodologia DOMP™ é composto por dezenas de formulários, minuciosamente descritos em um manual com mais de 200 páginas, chamado Metodologia DOMP™ Reference Guide Manual, onde cada formulário e todos os seus campos são explicados nos mínimos detalhes.

No Metodologia DOMP™ Reference Guide Manual estão explicações do “por que cada campo foi criado e os objetivos das suas existências”, “para que eles são usados”, “como e com quais dado os campos devem ser preenchidos” e, principalmente, “qual o envolvimento de cada campo com o todo, com o processo”.

Desculpando-me, se pareço tautológico, a DOMP™ é uma metodologia metodologicamente detalhada. São dezenas de formulários com centenas de campos para serem usados nas quatro dimensões abrangidas pela metodologia. As 4 dimensões da Metodologia DOMP™ são: Dimensão Planejamento Estratégico, Dimensão Gerência de Projetos, Dimensão Gerência de Processos de Negócio, Dimensão Inovação - Design Thinking. Cada conjunto de formulários permite que se trabalhe na coleta de dados e informações e no desenvolvimento das análises que se fizerem necessárias.

Uma das mais precisas definições da Metodologia DOMP™ foi dada pelo Estéfano S. Cerqueira - Otimização de processos de logística de suprimentos das operações de exploração e produção da Petrobras. E&P-SERV/US-LOG/OPNP/Otimização de Processos de Logística - Rio de Janeiro 28 de Agosto de 2013. Ele escreveu:

“Escolhemos a metodologia do Prof. Tadeu Cruz porque precisávamos de informações sólidas, detalhadas e úteis sobre o processo. Nossa intenção era melhorar e automatizar os processos de logística em nível operacional. A ma ioria dos métodos atualmente disponíveis fica num nível muito superficial de informação, que raramente permite identificar oportunidades de melhoria. "O diabo mora nos detalhes" (provérbio alemão). A metodologia do Prof. Tadeu Cruz nos permitiu ter o domínio do processo quase que como se o vivenciássemos no dia a dia. Isto facilita muito o trabalho de análise dos especialistas.”

A Metodologia DOMP™ já foi utilizada em dezenas de empresas públicas e privadas, no Brasil e no exterior, sempre com excelentes resultados. Mas, há sempre quem goste de “mal entender” o papel de uma metodologia para Gestão de Processos.

Uma vez uma pessoa me disse:

- Mas a Metodologia DOMP™ não garante que tudo que se tenha implantado continue sendo executado.

Ao que respondi:

- Nenhuma metodologia garante isto.

Talvez, quem sabe se possa garantir algum grau de estabilidade com o suporte de um software de Workflow, ou Business Process Management Systems. Mas assim mesmo, há uma série de cuidados a serem tomados para que as pessoas, sempre no afã de serem criativas (sempre elas), simplesmente abandonem a aplicação por qualquer pretexto.

Só há uma forma de garantirmos certa estabilidade na execução dos padrões de operações criados e implantados nos processos, é mantendo o gerenciamento dos processos de forma ativa (voltarei a falar disso em outro artigo). “Vigiai e orai” Mateus 26:41. No nosso caso, na gestão de processos, quanto mais se vigiar, menos se precisará orar.

Sejamos criativos!

É ótimo sermos criativos, mas o cuidado que se impõem em tudo que quisermos criar é o de termos cuidado para não garantirmos algo que nunca poderá ser entregue.

Para encerrar uma frase que gosto muito, “A superstição põe o mundo em chamas, a filosofia apaga-as.” Voltaire.