O impacto da automatização do trabalho no quadro de funcionários das empresas
- Tadeu Cruz
- 29 de jan. de 2019
- 5 min de leitura
Como será o nosso trabalho daqui para frente?

Logo após esta avenida na qual nos encontramos, dobrando a próxima esquina à direta ou à esquerda, tanto faz, daremos de cara com o futuro que nos aguarda. Um futuro cada vez mais tecnológico, cheio de novas características, desafios, incertezas e funcionalidades, algumas que nem mesmo estarão prontas em todo o seu potencial para serem usadas tão logo sejam apresentadas a nós, mas estarão lá.
As empresas e nós estaremos prontos para usar tanta tecnologia, tanta funcionalidade, tanta coisa nova?
Depende.
No Brasil e no mundo existem várias realidades, e vivemos em várias, às vezes, em um mesmo dia. Que esta realidade, de haver várias realidades, seja clara, límpida e transparente para todos nós, para que, quando chegar a hora de dobrarmos a esquina e passarmos a usar algumas destas novas tecnologias, possamos ter consciência de em qual realidade estamos e, assim, ajudar quem vive em outras realidades menos tecnológicas e menos favorecidas do que a nossa.
O mundo dos negócios torna-se cada vez mais competitivo. Não existe mais espaço para quem não estiver preparado para pensar em nível global, embora atuando localmente. Parece ser uma equação impossível de ser resolvida, pensar globalmente e agir localmente; este tipo de comportamento é exigido para todas as organizações que quiserem agir até onde sua presença alcançar e assumir responsabilidades pelos seus atos onde quer que seus produtos, bens e serviços alcancem. A organização empresarial precisa perceber as repercussões das suas atitudes no todo – pensar globalmente – e garantir uma presença sólida e lucrativa – agir localmente. Em outras palavras, tem que pensar nas suas ações com relação ao mundo, mas agir para construir uma sólida base a partir dos pequenos atos.
Um milhão de vagas de gerente foram eliminadas na última década
A Folha de São Paulo, na edição de 4 de fevereiro de 2018, traz uma interessantíssima matéria sobre como as empresas brasileiras buscaram enfrentar as sucessivas crises econômicas, cortar custos, adotar novas tecnologias da informação e modernizar suas estruturas organizacionais: eliminaram mais de um milhão de vagas de gerência e supervisão ao longo dos últimos dez anos.
Os dados foram obtidos junto ao CAGED (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) e, entre outras informações, mostram que esse processo se acelerou entre 2015 e 2017, período em que o país viveu a maior recessão desde os anos 1980.
Ainda segundo a Folha de São Paulo, “entre os dez campeões de postos eliminados, cinco estão na chamada ‘chefia intermediária’: supervisor e gerente administrativo, gerente de loja e supermercado, gerente comercial e gerente de vendas. A maior parte das empresas colocou as lideranças no limite nos últimos anos”, afirmou Ricardo Basaglia, diretor-executivo da consultoria Michael Page. “Com a crise, o mercado consumidor diminuiu de tamanho, e as empresas se adequaram a esse novo cenário”, avaliou no mesmo artigo.
Crises, necessidade de modernização, de enxugamento da estrutura, de modernização das suas operações, tudo isso, entre tantas outras necessidades, leva as organizações a permanentemente ajustarem suas estruturas. Entretanto, desde a década de 1990 já buscam implantar uma maior horizontalização nas estruturas como forma de aumentar e melhorar a participação de todos nas operações do dia a dia. Quanto menos níveis gerenciais, melhor fica a estrutura, mais enxuta, melhor para administrar e operacionalizar.
Com base nessa necessidade e por meio de novas tecnologias da informação, surgem novas estruturas organizacionais. A mais revolucionária, no meu entender, é a estrutura em rede.
Muito se tem falado, escrito, discutido sobre as organizações conhecidas como estruturas em rede, que, na maioria das vezes, são referenciadas por determinadas características operacionais, chamadas de arranjos produtivos locais (APLs), clusters, entre outras denominações, como representações estruturo-organizacionais ideais para sustentar a cadeia de produção integrada por micro, pequenos e médios empresários, e estes a grandes corporações.
O que é estrutura em rede?
Estrutura em rede é o agrupamento multidisciplinar e multifuncional (latu sensu) de indivíduos com o objetivo de prover complementaridade a todos que dela participem de forma direta ou indireta. Desta forma, definimos qualquer estrutura em rede não importando se os objetivos que serviram para sua criação foram comerciais, culturais, meramente sociais ou, até mesmo, criminosos. Dada a diversidade de nomenclatura utilizada por vários autores, assumi como tarefa encontrar as raízes comuns do conjunto de manifestações estruturais que atendem pelo nome de estrutura em rede.
Antes, quero ressalvar que na estrutura em rede não existem chefes na acepção da palavra comumente empregada nas organizações estruturadas hierarquicamente. Na estrutura em rede sua conformação se dá por meio do conhecimento existente dentro da organização. Em outras palavras, o que vale mesmo, o que importa, é o conhecimento que cada funcionário, cada colaborador possui e as responsabilidades que lhes são atribuídas.
Logo, podemos deduzir que ninguém é mais importante que ninguém dentro de uma organização estruturada em rede. O presidente é tão importante quanto a faxineira; qualquer diretor é tão importante quanto qualquer telefonista e por aí vai. O que diferencia cada colaborador é o tamanho da sua responsabilidade. Pode-se, então, deduzir que postos de trabalho não serão fechados na mesma proposição e velocidade como o são numa estrutura hierárquica. Empresas da era do conhecimento já trabalham estruturadas dessa forma.
Em uma empresa em rede, com ênfase nas ligações que os conhecimentos existentes nela exercem nas ligações estruturais, dificilmente alguém será demitido, pois não haverá funcionário ocioso, sem função, sem importância para as operações, sem utilidade. Ainda que os bots estejam chegando cada vez mais perto de todos nós.
O que é um bot?
Bot é a abreviatura de robot, robô em português, que estamos usando para designar as máquinas que (já) têm capacidade de substituir o ser humano em diversas funções, e que a cada dia que passa assumem mais e mais tarefas, seja na empresa, em casa, no carro, em qualquer tipo de lazer.
Lembra das URAs (Unidades de Resposta Audível), tão antigas em termos tecnológicos quanto andar para frente e ereto? Pois é, as URAs são precursoras dos incríveis robots existentes hoje. Eles estão por toda parte, nos carros conectados a IoT (internet das coisas, em português), e também estão nas casas que podem ser operadas e gerenciadas à distância. Os bots estão em um sem-número de processos de produção por meio dos RPAs (Robotic Process Automation), em diversas funções financeiras de qualquer empresa, em várias funções de vigilância, nos PPDs(Portable Personal Device) de toda e qualquer espécie. Enfim, os robôs chegaram e para ficar.
Aliás, as previsões apontam que o investimento em IoT chegará a US$ 15 trilhões do PIB global até 2030.
Cabe às empresas, mormente as que não forem da produção de conhecimento, se prepararem para substituírem seus funcionários humanos por autômatos. Isso não tem nenhum significado maniqueísta, é somente a pura constatação da realidade.
Conclusão: dobrando a esquina encontraremos o futuro. Nele, existe um trinômio que deve ser entendido, absorvido e aceito pelas corporações que quiserem existir no futuro: conhecimento, não estruturas organizacionais e tecnologias da informação.
Este trinômio já está nos esperando como realidade. Uma realidade cada vez mais presente e desafiadora para todos nós.
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