Produtividade é algo concreto ou abstrato?
- Tadeu Cruz
- 17 de jan. de 2019
- 4 min de leitura
Dá para trabalhar menos e produzir mais e melhor?

Dia destes, em uma aula num MBA de Controladoria, uma aluna me perguntou:
- Professor, o que é produtividade? Todo mundo fala, fala, mas ninguém explica. Produtividade é algo concreto ou abstrato?
Eu parei, pensei um pouco e concordei que ela tinha razão. Muito se fala em produtividade e, a rigor, poucos sabem exatamente o que vem a ser, como se calcula e à que está ligada.
Para se falar em produtividade existem várias etapas que necessitam ser entendidas, e que devem ser executadas para aumentá-la, pois produtividade não é uma coisa só. Há abordagens e cálculos e conclusões sobre produtividade em diversos níveis e ambientes.
Por exemplo, antes de descobrir como calcular a produtividade de um funcionário, de uma empresa, de uma organização, de um processo de negócio, é preciso compreender melhor a definição de produtividade.
O conceito, basicamente, diz respeito à relação entre o que foi produzido e os recursos utilizados para sua produção. Entretanto, não basta produzir, ainda que a organização esteja gastando poucos recursos, há uma necessidade imperiosa de termos processos de negócio formalmente documentados e efetivamente gerenciados, para que o cálculo da produtividade esteja correto.
Um dia, um diretor de uma grande empresa estatal me ligou e disse:
- Professor, eu sou diretor de planejamento e controle de orçamentos e a minha dúvida é se estes orçamentos que todas as áreas me enviam estão corretos ou são chutes.
Eu disse: vocês têm os processos formalmente documentados?
- Não, professor, não temos.
- Então eu sinto dizer, mas não tenha dúvida, são chutes. Estes orçamentos operacionais que as áreas enviam são chutes. Como é que alguém vai saber o que gasta sem saber como e porquê? Sem controles? Este conceito vale inclusive para nossa vida privada.
Mas... Por que eu pude ser tão enfático na minha resposta?
Porque só há uma maneira de controlar operacionalmente qualquer organização, por meio dos seus processos de negócio!
Não há outra maneira de calcular produtividade sem sabermos o que cada funcionário faz, quais recursos usa, em quanto tempo e, principalmente, com que qualidade produz e entrega o que tiver sido prometido ao seu cliente. Seja interno, ou seja, principalmente, externo.
Em síntese, se eu tenho dois ou mais funcionários produzindo o que um só poderia fazer eu tenho baixa produtividade e nenhuma competitividade, porque estarei gastando mais do que deveria gastar para produzir o que deveria ser produzido por um único funcionário. Isso sem falar que ambos estariam gastando em dobro os recursos que apenas um deveria gastar.
Como calcular produtividade. De maneira geral você pode usar a seguinte fórmula:
PRODUTIVIDADE = valor das saídas úteis ÷ pelos custos totais para obtenção dos produtos.
E esta fórmula um pouco mais financeira:
PRODUTIVIDADE = receita total ÷ pelo custo total.
Como disse antes, estes são cálculos simplistas, mas que servem para dar uma boa ideia de como começar a calcular produtividade em qualquer organização.
“O aumento da produtividade não significa fazer as pessoas trabalharem mais horas, mas usar os recursos com mais eficiência”. Mark Dutz economista-chefe do Banco Mundial.
Exatamente, trabalhar menos, porém melhor, muito melhor, por meio do uso eficiente dos recursos e tecnologias à disposição da produção. Eu costumo dizer nas minhas aulas e livros que a empresa desorganizada sabe o que ganha, mas não sabe o que perde.
Segundo o Banco Mundial, o Brasil tomou decisões equivocadas nos últimos anos na tentativa de estimular o setor produtivo e hoje é “ineficiente na maioria das atividades que realiza”. Essa é uma das conclusões de um estudo do Banco Mundial de 2018, que analisa o emprego e a produtividade no país. Segundo o documento, o Brasil tem gasto muito dinheiro com políticas de apoio a empresas que são, em sua maioria, ineficientes.
Em 2016, por exemplo, 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) foi destinado a esse fim, entre isenções fiscais, créditos subsidiados e transferências para setores específicos. O número é nove vezes superior ao gasto com o programa Bolsa Família. Os resultados dessas ações, no entanto, foram limitados, na análise do Banco Mundial.
Para o Banco Mundial, o excesso de intervenção do governo no funcionamento do mercado causou distorções na economia brasileira e criou um cenário de empresas que dependem excessivamente do governo, além de desestimular a entrada de novos participantes na economia. Entre as políticas listadas pelo Banco Mundial como equivocadas estão a introdução de barreiras onerosas à importação, requisitos de conteúdo local, alíquotas diferenciadas, isenções fiscais e subsídios de crédito que beneficiaram apenas algumas empresas ou regiões.
O relatório mostra que o trabalhador brasileiro tem evoluído pouco em termos de produtividade: é apenas 17% mais produtivo hoje que há 20 anos. Nos países de alta renda, essa proporção é de 34%. Em média, a produtividade do trabalho no Brasil cresce a um ritmo de 0,7% ao ano desde a década de 1990. Péssima conclusão!
O Brasil é desorganizado, de uma maneira geral porque suas empresas são desorganizadas. Estão sempre, salvo raras exceções, correndo atrás do próprio rabo.
Também, salvo raras exceções, há pouca ou nenhuma preocupação com organização e gerenciamento de processos de negócio, na atualidade buscam desesperadamente ser ágeis, como se isso fosse aumentar a produtividade das suas operações. Eu creio de forma ágil estarão se precipitando no abismo. Quem viver verá, ou lerá os próximos relatórios sobre produtividade do Banco Mundial.
Não há mágica!
Só há um jeito, uma possibilidade de aumentarmos a produtividade geral da Nação, sendo organizados. Sendo organizados na produção, nos estudos, na diversão, em tudo, sem que isto se revista de uma péssima reputação atribuída, principalmente, por quem gosta de ser desorganizado.
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