É preciso (re)formatar a maneira como estruturamos e dirigimos as organizações
- Tadeu Cruz
- 6 de fev. de 2019
- 4 min de leitura
Hoje não precisamos mais de espaço e tempo para fazer negócios!

Não precisa ser uma reforma que as desestruture ou as destrua, como fizeram os projetos mal realizados de reengenharia, pelo contrário, a reforma que defendo deve abster-se de pensar em estruturas para pensar em modus operandi, isto é, precisamos mudar nossa maneira de ser e deixar de lado nosso comportamento ainda muito centrado na cultura do “o que sou eu?” ou “quem sou eu?”, para assumirmos outra postura, baseada na cultura do “o que sei eu?” e “quais são minhas responsabilidades?”. Embora possa soar como filosófica, a ideia é muito mais prática do que parece.
Vejamos como transformar as organizações.
Até pouco tempo atrás vivíamos dentro de duas dimensões: a de tempo e a de espaço. Tudo que fazíamos, ou que tínhamos de fazer, obrigava-nos a primeiro encontrar um espaço e só depois então pensávamos no tempo, que também influenciava na busca pelo espaço, quase um círculo vicioso.
Tudo que queríamos ou precisávamos fazer tinha que ser feito nas dimensões de espaço e tempo. Hoje o espaço chama-se digital e ele preenche completamente o planeta no qual vivemos (quem sabe no futuro preencha o universo). Justamente por causa da universalização do espaço é que tudo que tivermos de fazer será feito apenas na dimensão que restou: a de tempo.
A outra dimensão, o espaço, já não é mais relevante para fazermos o que fazíamos tendo que ir a algum lugar. Agora todos os lugares vêm até nós.
A nova dimensão eletrônica chama-se Cloud Computing.
Cloud computing é a utilização, como serviços de tecnologias da informação, de hardware e de software, por meio de uma rede, entre elas, e mais precisamente como suporte, a própria Internet. A ideia principal que está por trás da computação na nuvem é a de eliminar, ou reduzir ao máximo o custo de aquisições de TI. O princípio básico da computação na nuvem é o de não ter custo de aquisição, só de utilização. O único custo de aquisição é o da máquina que vai colocar o usuário na rede.
O nome cloud computing vem da forma indefinida e abstrata das nuvens que representa com muita propriedade a complexa infraestrutura que suporta o conceito de computação em qualquer lugar. Claro deve estar para todos que o custo de aquisição será mantido para empresas, de todos os tamanhos, e para quem “vender” os serviços de computação na nuvem.
Mas…
Espere, nem se fala mais em computação na nuvem, ou pelo menos, não com tanto ardor como há algum tempo atrás.
Tudo bem. A indústria de TI está sempre procurando se reinventar, salvo raras exceções, “requentando a sopa” servida e não bebida, por falta de condições para fazê-lo.
Como TI está sempre evoluindo, mesmo que por meio da reciclagem de antigas ideias, já estamos falando em computação no céu (Sky Computing), o que significa dizer que todas as nuvens estariam em muito pouco tempo interconectadas sob o mesmo universo.
O que nós ganhamos com tudo isto?
Tablets, Smartphones, Cloud Computing e outras tantas tecnologias existentes e que estão chegando são mesmo necessárias?
Como aproveitar corretamente, de forma pessoal e profissional, tudo isto?
Só há uma resposta: ORGANIZAÇÃO!
Por meio de um eficiente gerenciamento de processos de negócio, organizados e racionalizados. Caso contrário estaremos transferindo para a “nuvem” e, a grosso modo, para TI a bagunça que ainda temos e teremos (muita) por aqui em terra firme.
Algumas empresas já descobriram que o espaço não tem mais a mesma importância que tinha há cinco, 10 ou 20 anos. Pouquíssimas empresas descobriram que para existirem, fazer negócios, ter funcionários, o que conta mesmo é o tempo e não o espaço. A maioria absoluta das empresas, entretanto, ainda se apega mais aos espaços que ao tempo. Essas empresas continuam paquidérmicas (tendo 10 ou 200 mil funcionários, não importa o número de funcionários), movendo-se lentamente, ocupando espaços enormes, inchando e encolhendo, sempre sofrendo dos efeitos desastrosos que a inércia (inimiga da agilidade) impinge a suas estruturas viciadas.
O apego que as pessoas (ainda) têm por cargos, títulos e outras manifestações superficiais é uma das maiores dificuldades que existem para que as empresas possam beneficiar-se rapidamente das novas ideias e transformarem suas estruturas organizacionais em “não estruturas” e, consequentemente, das novas Tecnologias da Informação. O nome nas “caixinhas” dos organogramas ainda conta muito mais que o conhecimento que as pessoas têm e o que elas podem e devem fazer com ele.
O(a) cozinheiro(a)!
Esse é o exemplo que mais gosto de usar para exemplificar meu conceito de Organizações Móveis. Parece estranho, não é? Um cozinheiro, que pode até não ser um mestre da cozinha ou um chef francês, sabe que sua função é cozinhar. Entretanto, a cada novo dia ele deve estar preparado para cozinhar o que o cliente quiser comer.
Quem tem algum conhecimento de cozinha já percebeu que saber cozinhar é apenas a primeira parte do conhecimento que um cozinheiro precisa ter. Eu diria que nessa primeira parte estão os conhecimentos básicos sobre cozinha, como o que significa um punhado de sal, uma pitada de orégano, uma gota de baunilha, uma colher de sopa de tal ingrediente, uma colher de chá de outro e por aí vai. A segunda parte do conhecimento necessário ao cozinheiro é gerada constantemente pelo uso de ambas as partes. Essa segunda parte é responsável pela capacidade dele de, a cada dia, a cada momento, cozinhar algo diferente embora os ingredientes sejam exatamente os mesmos.
Certa vez vi como esse exemplo é prático.
Estava assistindo, há muito tempo, ao programa do Olivier Anquier numa visita que ele fez a Juca Chaves, na casa deste em Salvador, quando o apresentador desafiou o Juca a fazer um prosaico ovo frito. Incrível, qual o segredo que pode ter a fritura de um ovo? Pois é, o prato do Olivier era mais consistente, mais bonito e limpo e, pelos comentários, mais gostoso do que o do Juca Chaves!
As Organizações podem deixar de ser estruturas rígidas, criadas sobre organogramas que não servem para outra coisa a não ser alimentar a “fogueira das vaidades”. Mas, para mudarmos a maneira como as empresas Organizações trabalham, há a necessidade de mudarmos antes a cultura das Organizações organizacional, possibilitando, com isto, que as pessoas que nelas trabalham sejam mais que uma simples “caixinha” pendurada no organograma.
Há mais um ponto para o qual devo chamar sua atenção leitor, leitora, a incrível compulsão que temos para acreditar em novidades, ainda que nem sejam tão novas…
Hoje existem algumas palavras que estão na moda, palavras que chamamos de buzzwords, e como se fossem arautos dos novos tempos, profetas (falsos?) alardeiam a necessidade de sermos criativos, de reinventarmos a nós mesmo todo o tempo, de aprendermos a aprender, sempre!
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